Eu, ser de água, fração absoluta da matéria, sou gotícula dos mares coloridos.
..., da Terra doação, tal mortal que do pó é o corpo, sou grão de areia das praias rudes e ignotas.
..., espelho fino da lâmina das ondas crespas, arrastadas, no vaivém do fluxo e refluxo, refletindo o Sol que faz a sua policromia.
..., da manipulaçao das substâncias, do sal das moléculas oceânicas precipitadas, sou também ávido do Sal da Vida, que cura e salva.
..., da contemplação das ondas, da atração da Lua, no belo luar vendo as marés que oscilam, altas e baixas, como incertas são as vagas da existência.
..., cantante, falante, choroso, ouço a tua melodia sem-fim, o silêncio infindo das calmarias, a voz gritante nos turbilhões das tempestades, do marulho em soluço nos penhascos banhados.
..., detentor do ato de vontade, penso e compreendo a fúria das procelas, luta renhida para sobreviver, moldura do ser valente.
..., vivente da Natureza, tendo na vida marinha o alívio da fome, deslumbrado do aquário imenso no seio de suas correntes.
..., da vegetação viva no oxigênio de suas entranhas úmidas, no processo mágico entre o vivo da criatura e o mar vivo que dá e ceifa a vida.
..., filho do progresso e da ciência, simbólica visão do singrar altos-mares, da coragem indômita e bravura de heróis.
..., sonhos de velejador ou de barcos corredores, na linha do horizonte e o ponto diminuto do homem, tudo tão vasto, terras e Céu, indago os valores da sobrevivência física e moral.
..., assistente de seus desfiles encrespados, enfeites de alvas espumas.
..., na imaginação dos segredos de suas profundezas, nos abismos das plataformas guardiãs.
..., perdido na investigação dos despenhadeiros da alma humana, sedenta de Amor.
..., homem desconhecido, e o Mar, interiores impenetráveis e indevassáveis, aquele passa, o mar vive sempre.
..., homem, vivendo do mar, que vive sempre.
..., homem, criança e gente grande, do lazer no mar, que vive sempre.
..., homem, nos castelos de areia que caem ao mar, que vive sempre.
..., homem, finito no mar da vida, contrário da vida do mar, infinita.
..., milagre de viver, à procura de um barco no mar de esperanças, no mar da Vida infinita.
..., peregrino, na multidão amorfa, que passa, lá fica o mar, o mito do desconhecido.
..., da grandeza admirado, da criação do Mar curioso, não foi ato de homem, foi ato de um Deus.
..., homem, da palavra e do sentir, perdido no mar de vaidades, entre o Bem e o Mal.
..., homem no olhar o mar, soprado pelo vento, da abóbada celeste iluminado, tempos da noite e do dia, o Tempo.
Ó Mar, tão grande, Eu, tão frágil, de corpo e de espírito.