É
evidente e todos conhecem o forte relacionamento entre o Executivo e o
Judiciário, destinatários recíprocos de fartos elogios. São atirados tantos
confetes que fica difícil distinguir a intensidade das palmas.
De outro lado, o Promotor de Justiça, apesar de não ter, nunca pretendeu
ter, a expressão final do veredicto, dispensa as caudas coloridas das
homenagens e do prestígio (é uma das formas veladas de corrupção, também
gerada pelo delito do dinheiro e fruto, às vezes, da incompetência dos
brilhantes homens públicos).
O Promotor de Justiça, em sua simplicidade, contudo, não age com a volúpia
de um carrasco da justiça. Tem as mazelas de todo vivente e de todo
departamento, mas supera essas dificuldades domesticamente, preservando
sempre o respeito às instituições. Não ofende o vizinho (ou partícipe
obrigatório da atividade judicial) e não atira pedra, a uma, porque é
possível um ou outro telhado de vidro e, a duas, porque é difícil encontrar
uma unanimidade sem falta e pecado. Aquele isento de defeito, atire a
primeira pedra (Cristo não o fez).
E se a Justiça foi ofendida no disparate de um cidadão, a escapatória de
enodoar o Ministério Público, além de falta de educação no trato do problema
da Magistratura, é um perigoso desvio da busca da verdade. A Promotoria
Pública não concede diploma de honorabilidade a qualquer pessoa. Quando
verifica a existência de um crime e, se ficar provado o conjunto de seus
elementos, da tipicidade à culpa, não se regozija, não se ensoberbece,
apenas contempla a sociedade, preservada em um de seus valores.
O Ministério Público, segundo algum insensato, está perdido em suas chagas.
No entanto, o cobertor do labéu foi colocado no Judiciário. Defendam-se, sem
ferir o próximo. Afastem-se do exemplo de infamar sem prova, de acusar de
omissão sem indicar a circunstância em que teria ocorrido a desídia.
O Ministério Público nada disse, nada dirá, difamando o Judiciário. Tem
convicção do seu papel. É outro seu Ideal. Jamais será, creiam, repartição
de atestado da idoneidade moral de qualquer homem público ou salvo conduto
da impunidade decorrente da força do poder. Depois, se cada um esvurme as
feridas do seu terreiro, o mundo será mais limpo (Confúcio).